Para
todos nós foi um choque, uma coisa totalmente inesperada e a primeira vez que
ela teve que lidar com a perda de uma pessoa próxima querida. Sem saber como
lidar com essa situação, recebemos a notícia da morte em uma noite e já na
manhã do dia seguinte ela teria que ser sepultada. Como único irmão, meu marido
tinha que ajudar a resolver a parte legal e não sabíamos de que forma dar a ela
essa notícia. Como foi tudo muito rápido, decidimos levar ela para escola, sem
falar nada e tentando não demonstrar o que estava acontecendo. Conversei com a
professora que ela ainda não tinha conhecimento do ocorrido e em casa tentamos
não deixar que ela soubesse.
No
entanto, tínhamos em mente que era por nós, seus pais, que ela deveria saber
que não veria mais sua tia, com quem ela brincava como se as duas tivessem a
mesma idade. Esperamos a melhor oportunidade para contar. No sábado à noite,
quando o pai ia sair para ir à casa da avó, ela perguntou se ele iria ajudar a
vovó a cuidar da tia. Decidimos que essa seria a hora oportuna. A princípio, o
único comentário dela foi: “Mas ela foi muito rápido, né, pai?”. Nos
surpreendemos com tanta sabedoria em discernir que o natural é que primeiro vão
os mais velhos. Mas foi apenas num segundo momento que percebi que ela
realmente tinha entendido que não veria mais a tia e chorou, chorou muito.
Deixei
que ela chorasse à vontade, que vivesse esse momento de tristeza, até então
desconhecido para ela. Como mãe, não queria que ela tivesse vivido aquilo. Mas
tinha a consciência que ela precisava saber a verdade e por nós. É uma situação
fácil? Não. De forma alguma!! Se fosse hoje, talvez tivesse agido de outra
forma; se tivesse havido mais tempo para a despedida, talvez!
Depois
desse episódio, tivemos duas outras situações de morte que passamos com ela, a de
um senhor e uma senhora que ela gostava muito e que a tratavam como neta. Nos
dois, contamos, perguntamos se ela queria participar do velório e funeral e ela
participou. O choro, as perguntas sobre a morte aconteceram algumas vezes
depois de passados esses dois casos. Pensando bem, é difícil para a criança
entender (e aceitar também) que não terá mais aquela pessoa fisicamente na sua
convivência.
Acontece
que muitas vezes esse assunto acaba vindo à tona somente quando a morte ocorre.
Ser sincera com a criança é o fundamental nesse momento. Embora não estejamos
preparados, a morte faz parte da vida. É do ciclo natural da existência humana,
assim como de todos seres vivos. Daí uma boa forma pode ser usar a figuração do
ciclo da natureza – em que os seres nascem, crescem, adoecem e morrem – como
exemplo para a realidade da morte.
Especialistas
não recomendam o uso de linguagens metafóricas, pois podem causar confusão na
cabeça da criança. Ao falar que o vovô que morreu descansou ou que o papai
viajou ou a madrinha virou uma estrelinha para poupá-la da dura realidade,
pode-se criar uma falsa expectativa na criança de que vai vê-los acordar, ou
ver o papai voltar.
Dar
a opção à criança de participar de todo ritual de passagem do querido que
morreu é também uma chance de deixá-la viver todo esse momento. Mas essa deve
ser uma decisão da criança. Deixá-la de fora por decisão dos adultos pode
representar no futuro uma frustração por não ter podido se despedir.
Assim
como os adultos, cada criança tende a reagir à morte de um ente querido de uma
forma diferente. Algumas podem aceitar mais naturalmente, outras podem apenas
chorar no dia, outras ainda sentirem muito a falta da pessoa que se foi e isso
levar mudanças de comportamento, como revolta, raiva, alteração de atitude na
escola... Nesses casos, é sempre bom procurar ajuda de um psicólogo, para que a
criança possa passar por isso da forma menos traumática possível.
Mas
todo apoio, carinho, atenção e sinceridade nesse momento farão toda diferença.
Passar para ela a segurança e a certeza de que, apesar da morte, as lembranças
vividas ao lado daquela pessoa nunca serão apagadas da memória e do coração.
Algumas sugestões de livros para abordar
esse tema com as crianças:
Começo,
meio e fim
Frei Betto – Ed. Rocco
Pequenos Leitores
O livro conta a história de uma menina que, numa visita ao
avô adoentado, acaba aprendendo um pouco mais sobre a vida, o amor e a fé, ao
lidar com a iminência da morte. A linguagem descomplicada e as graciosas
ilustrações de Vanessa Prezoto tornam o assunto menos amargo para os pequenos.
Menina Nina
Ziraldo
– Ed. Melhoramentos
Comovente livro do cartunista Ziraldo, em que relata a morte
de sua mulher Vilma e como foi todo o processo para sua neta Nina. Com uma
enternecedora força poética, o autor sonda os mistérios da vida e da morte e,
numa linguagem cuidada e simples, consegue falar da dor de um modo delicado e
cheio de esperança.
O Meu Avô Foi Para o Céu
Maria Teresa Maia Gonzalez – Editorial Presença
A história do garoto Tim, de 9 anos, que levava uma vida normal, com
muitas brincadeiras e aventuras, sonhos e que todos os dias visitava seus avós
maternos, que moravam muito perto. Até que o avô Jerônimo morreu. E então Tim
recebe um desafio inesperado da avó Paula.
Para Onde Vamos Quando Desaparecemos?
Isabel Minhós Martins – Ed. Tordesilhas
Trata os temas da morte e
da perda com analogias leves e sensíveis. Mostra, assim, que a ausência de
respostas definitivas, em vez de angustiante, pode ser a oportunidade certa
para que a imaginação ganhe asas e explore inúmeras possibilidades.
Beijos
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