Esse
ano, o Ministério da Saúde incluiu no calendário oficial a vacinação contra o Papilomavírus
Humano (HPV) para meninas com idade entre 11 e 13 anos. A vacina, que precisa
das três doses para deixar as garotas imunizadas, teve uma boa adesão na
primeira dose. No entanto, a segunda dose está abaixo da meta.
Algumas
dúvidas e até mesmo alguns episódios de reação que aconteceram em algumas
meninas podem ter contribuído, mas o Ministério da Saúde reforça a importância de
vacinar e deixar as adolescentes protegidas contra o HPV e o câncer de colo de
útero. De acordo com o Ministério, a vacina é segura, tem eficácia comprovada e
é utilizada em 51 países por meio de programas nacionais de imunização, além de
ter sua segurança é atestada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Hoje,
o blog Conversinha de Mãe traz uma
entrevista com o médico Jairo Bouer, conhecido por tirar dúvidas sobre
sexualidade em diversos programas de televisão, rádio e internet. Nela, ele
esclarece alguns questionamentos sobre o HPV. Jairo é médico psiquiatra formado
pela Faculdade de Medicina da USP e pelo Instituto de Psiquiatria, do Hospital
das Clínicas da USP, trabalha com comunicação há 20 anos, focando seu trabalho
em prevenção, saúde e sexualidade dos jovens. É autor de 11 livros e
audiolivros, entre eles Guia dos Curiosos Sexo (em parceria com Marcelo Duarte,
Panda Books) e Sexo & Cia (Publifolha). A entrevista exclusiva foi
concedida a Gabriela Rocha, do Blog da Saúde, onde ele esclarece as principais
dúvidas sobre o câncer de colo de útero e sobre a vacina contra o HPV.
1. O que é HPV?
O
Papilomavírus Humano, conhecido como HPV, é um vírus bastante comum que pode
provocar o aparecimento de verrugas na pele ou mucosas ou, ainda, pode promover
alterações em algumas células do corpo, como nas células do colo do útero,
leves ou graves, podendo levar ao câncer de colo uterino. Existem
aproximadamente 100 tipos de HPV identificados. Os tipos encontrados nas áreas
genitais são basicamente de transmissão sexual. Alguns deles causam as
verrugas, outros estão mais relacionados às lesões precursoras de câncer.
2. Como o HPV é transmitido?
O
HPV é altamente contagioso, sendo possível contaminar-se com uma única
exposição, e a sua transmissão se dá por contato direto com a pele ou mucosa
infectada. A principal forma é pela via sexual, que inclui contato
oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. Portanto, o contágio com
o HPV pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal. Também pode
haver transmissão durante o parto. Embora seja raro, o vírus pode propagar-se
também por meio de contato com mão.
3. Quais os sintomas do HPV?
O
HPV raramente causa sintomas. As verrugas externas geralmente são o sinal mais
comum, mas algumas podem ser tão pequenas que às vezes passam despercebidas.
Ocasionalmente, pode ocorrer prurido (coceira) ou queimação na vulva. Nos casos
mais avançados (câncer de colo do útero) pode ocorrer sangramento durante ou
após relação sexual, sangramento vaginal fora do período menstrual, corrimento
persistente com odor fétido. Entretanto, esses sintomas não são característicos
desta doença e ocorrem geralmente por outras causas.
4. Por que algumas mulheres desenvolvem
o HPV e outras não?
Estudos
no mundo comprovam que 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por
um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. Essa percentagem pode
ser ainda maior em homens. Estima-se que entre 25% e 50% da população feminina
e 50% da população masculina mundial esteja infectada pelo HPV. Porém, a
maioria das infecções é transitória, sendo combatida espontaneamente pelo
sistema imune, regredindo entre seis meses a dois anos após a exposição,
principalmente entre as mulheres mais jovens.
5. O que é câncer do colo do útero?
É
uma doença grave, caracterizada pelo crescimento anormal de células do colo do
útero. Cerca de metade de todas as mulheres diagnosticadas com câncer de colo
do útero tem entre 35 e 55 anos de idade. Muitas provavelmente foram expostas
ao HPV na adolescência ou na faixa dos 20 anos de idade. Estima-se que 270 mil
mulheres, no mundo, morrem devido ao câncer de colo do útero. No Brasil, o
Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima o surgimento de 15 mil novos casos e
cerca de 4,8 mil óbitos em 2014.
6. Como se prevenir da transmissão do
HPV e do câncer do colo do útero?
As
medidas de prevenção mais importantes são uso do preservativo nas relações
sexuais, evitar ter muitos parceiros sexuais, realizar higiene pessoal,
vacinar-se contra o HPV e realizar o exame Papanicolau.
7. Qual a importância da vacina HPV para
a saúde da mulher?
O
principal ganho da inclusão da vacina HPV no calendário vacinal será percebido
em longo prazo. Com essa geração de meninas protegidas, o risco de lesões
precursoras do câncer do colo do útero será muito reduzido, assim como o número
de mulheres com preventivos alterados e a necessidade de exames diagnósticos e
tratamento. Também vai diminuir o número de casos de verrugas genitais, talvez
a DST hoje mais comum.
8. A vacina é segura?
Sim.
A vacina é segura. Até o momento nenhum estudo que tenha associado de maneira
inequívoca a vacina de HPV a algum evento adverso grave. Como todo e qualquer
produto imunobiológico (vacinas, medicamentos, etc.), é claro que eventualmente
pode-se observar efeitos adversos. Após esses anos todos de uso da vacina, os
dados de segurança obtidos pelos sistemas de vigilância dos países que a
introduziram nos seus programas mostram que a vacina contra HPV é segura, com a
ocorrência de eventos adversos, na sua maioria leves, como dor no local da
aplicação, inchaço e eritema. Em raros casos, ela pode ocasionar dor de cabeça,
febre de 38ºC ou desmaios. Temos que ter cuidado com o que estamos falando. Uma
coisa é associar os efeitos colaterais com a vacina e analisar se isso é fato
ou não. Outra coisa é falar que ela não funciona e pode matar. Isso não pode
ser dito. Muitas vacinas são associadas a essas mesmas reações e nem por isso
vamos deixar de tomá-las.
9. A vacina contra HPV provoca algum
efeito colateral? O que fazer caso sinta alguns desses sintomas?
A
vacina é muito segura. Podem ocorrer eventos adversos leves como dor no local
da aplicação, inchaço e coloração avermelhada. Em casos raros, pode ocasionar
dor de cabeça, febre maior que 38º C e desmaios. É importante ressaltar que a
ocorrência de desmaios durante a vacinação contra HPV não está relacionada à
vacina especificamente, mas sim ao processo de vacinação, que pode acontecer
com a aplicação de qualquer produto injetável. Em caso de algum desses sintomas,
o Ministério da Saúde recomenda que a adolescente procure uma unidade de saúde
mais próxima relatando o que sentiu ou está sentindo.
10. O que você diria para as mães que
estão inseguras para vacinar suas filhas?
Leia
mais sobre o assunto, se informe e, se tiver dúvidas, converse com seu médico.
Se fosse minha filha, eu vacinaria com certeza!
11. Em quais situações a vacina contra o
HPV não deve ser administrada?
A
vacina é contraindicada a gestantes, meninas com hipersensibilidade ao
princípio ativo da vacina (sulfato de hidroxifosfato de alumínio amorfo) e que
apresentarem alguma reação alérgica grave após receberem a primeira dose.
12. Por que vacinar meninas tão jovens
contra o HPV?
Essa
faixa etária foi escolhida por dois motivos. Primeiro, a vacina é mais efetiva
em meninas que ainda não tiveram contato sexual e não foram expostas ao HPV.
Segundo, porque é nessa idade que o sistema imunológico apresenta melhor
resposta às vacinas. Com base em pesquisas feitas pelo IBGE, 28% dos jovens
começam a ter contato sexual a partir dos 13 anos, então vacinando essa faixa
etária conseguimos um melhor aproveitamento dos efeitos da vacina. A vacina é
eficaz para as virgens e para aquelas que já iniciaram a vida sexual. É claro
que a efetividade é menor por uma questão: a menina que já iniciou a vida
sexual pode ter tido contato com o vírus antes de se vacinar.
13. Se a adolescente de 11 a 13 anos
ainda não tomou a primeira dose ela ainda pode tomar?
Sim.
A vacina está disponível para as meninas nas 36 mil salas de vacinação da rede
pública de saúde, durante todo o ano.
14. A adolescente que tomou a 1ª dose
precisa tomar a 2ª?
Sim.
Todas as meninas que começaram a vacinação deverão seguir o esquema vacinal,
composto por três doses.
15. Quantas doses são necessárias para a
imunização?
O
esquema completo de vacinação é composto de três doses. O esquema padrão da
vacina (0, 2 e 6 meses) é 1ª dose, 2ª dose após dois meses e 3ª dose após seis
meses. No entanto, o Ministério da Saúde adota o esquema estendido (0, 6 e 60
meses): 1ª dose, 2ª dose seis meses depois, e 3ª dose cinco anos após a 1ª
dose.
16. Se a adolescente tomou a primeira
dose com 13 anos e já completou 14 anos pode tomar a 2ª dose?
Sim.
Todas as meninas que começaram a vacinação deverão seguir o esquema vacinal,
composto por três doses.
17. Meninas que já tiveram diagnóstico
de HPV podem se vacinar?
Sim.
Existem estudos com evidências promissoras de que a vacina previne a reinfecção
ou a reativação da doença relacionada ao vírus nela contido.
18. A vacinação contra HPV substituirá o
exame de Papanicolau?
Antes
de mais nada, é preciso ficar claro para todos: em nenhum momento devemos substituir
uma estratégia pela outra, as duas se complementam. A vacinação é uma
ferramenta de prevenção primária antes da entrada do vírus no organismo e não
substitui o rastreamento do câncer de colo de útero causado que já esteja em
evolução. Portanto, é imprescindível manter a realização do exame preventivo
(exame de Papanicolau). Outra questão é que a vacina disponível hoje não
protege contra todos os tipos oncogênicos, causadores de câncer de HPV. Dessa
forma, o rastreamento das mulheres por meio do exame preventivo deve continuar
sendo realizado, independentemente da vacinação.
19. Mesmo vacinada será necessário
utilizar preservativo durante a relação sexual?
Sim,
quando iniciarem a vida sexual, é imprescindível manter a prevenção por meio do
uso de preservativo na relação. O preservativo protege, além do HPV, outras
doenças transmitidas por via sexual, como HIV, sífilis, hepatite B, etc.
Esclarecidas
as dúvidas que algumas pessoas ainda tinham, acho que dá para pesar os
benefícios e decidir pela vacinação. Eu avalio como importante.
Beijos
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Fonte: Gabriela Rocha/ Blog da Saúde
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