“Todo
mundo tem e só eu que não vou ter”… “Se você me der, eu prometo que faço isso”…
“Meus amigos vão rir de mim se eu for o único que não tiver”… É difícil
encontrar pais ou mães que não tenham cedido a pressões dos filhos como as
listadas acima. E foi justamente o que constatou uma pesquisa do Portal Meu
Bolso Feliz em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil): 52%
das pessoas ouvidas afirmaram já ter comprado produtos para os filhos, mesmo
sabendo que essa atitude iria comprometer o orçamento da própria família.
Os
pais também foram questionados a respeito dos argumentos mais desafiadores ao
lidar com a pressão dos filhos. Para 22% dos entrevistados, o mais difícil são
as negociações do estilo “se você me der isso, eu prometo fazer aquilo”. Em
segundo lugar vem a chantagem emocional, argumento mencionado por 16% da
amostra. Nesse caso, os pais acabam cedendo para não se sentirem culpados, ou
para não “ficar com dó” das crianças.
Para
a psicóloga Maria Tereza Maldonado a criança, como qualquer ser humano, é
dotada de desejos e ânsias e, desde muito cedo, aprende formas e mecanismos
para satisfazer suas vontades. “Um bebê, por mais novinho que seja, já consegue
entender que tem o poder de chamar a atenção dos pais e de todos em sua volta,
quando começa a chorar, por exemplo. Sendo assim, a criança aprende no convívio
com os pais quais são os argumentos e até as chantagens mais eficientes que vão
fazer com o que o seu desejo seja realizado”, explica a psicóloga. Além disso,
na avaliação da especialista, o atual bombardeio publicitário ao qual as
crianças estão expostas colaboram para despertar novos desejos e ânsias pelo
consumo.
O sentimento de culpa
Na
avaliação dos especialistas ouvidos, o consumo como moeda de troca está
solidificado, na maioria dos casos, em um sentimento de culpa dos pais. “A
satisfação do desejo sentido pelos filhos pode representar, na verdade, uma compra
de paz de espírito para os próprios pais. Comprando tudo aquilo que o filho
pede, os pais tentam se livrar do peso causado pelas longas ausências em função
do trabalho e da rotina corrida do dia a dia”, explica a psicóloga Tânia
Zagury.
É
tanto que, quando os pais foram perguntados sobre os produtos mais comprados
para os filhos nos últimos três meses, os itens de eletrônicos (jogos,
celulares e notebooks) aparecem em primeiríssimo lugar, seguidos das roupas,
dos programas de passeio, dos calçados e dos brinquedos.
“Não
me espanta o fato de que jogos, celulares e notebooks sejam os itens mais
comprados pelos pais, porque são exatamente estes itens que deixam as crianças
entretidas por mais tempo, inocentando os pais pela ausência de afeto e
dedicação às crianças”, explica Maria Teresa.
O não positivo
O
poeta Fernando Pessoa escreveu certa vez em seus versos: “Vida vivida é vida
sofrida”. E realmente é fato: não existe como vivenciar uma experiência na
Terra, sem passar por dificuldades e frustrações. Os especialistas do Meu Bolso
Feliz são unânimes em afirmar que experiências de frustração na infância são
imprescindíveis para que a criança desde cedo aprenda a lidar com situações
difíceis e de desconforto.
“Aí
entra o não positivo, que é simplesmente a maneira que os pais negam o pedido
da criança — nas situações em que realizá-lo não é possível –, explicando o
motivo por que aquele desejo está sendo negado”, orienta Maria Teresa.
Para
a psicóloga, o segundo passo é identificar a raiz do desejo da criança, ou
seja, por que ela quer tanto determinado produto naquele momento e a todo
custo. “Os pais vão perceber que, muitas vezes, o problema que a criança está
enfrentando não tem nada a ver com o mundo material e aí podem até identificar
um problema de autoestima e de insegurança do filho. Por isso a importância de
praticar o não positivo”, revela a especialista.
Ela
acrescenta ainda que dinheiro e gastos excessivos não curam esse tipo de
insegurança do filho. “Muito pelo contrário. Ao darem este exemplo, os pais
estão incentivando um tipo de ciclo vicioso, que na maioria das vezes resulta
em descontrole financeiro e não resolve o problema da criança”, explica.
Mau exemplo para os filhos
A
pesquisa do SPC mostra que os pais não estão, no geral, dando bom exemplo aos
filhos. Entre os entrevistados que têm filhos, 76% já ficaram inadimplentes, e
53% compraram alguma coisa sem precisar nos últimos três meses. Além disso, 74%
não reservam uma parte dos ganhos mensais para poupança e 37% está pagando atualmente
cinco ou mais parcelas ao mesmo tempo, entre compras parceladas no cartão de
crédito, crediário, cheque pré-datado e empréstimos.
Na
avaliação de Tânia Zagury, pais que têm dificuldades de lidar com dinheiro
dificilmente terão um pensamento crítico em relação a gastos excessivos dos
filhos e conseguirão dar um bom exemplo. “Não me surpreendo com o fato apontado
pela pesquisa de que a maioria dos pais avalie que seus filhos têm bom
comportamento financeiro”, disse Tânia.
Com
mais da metade dos pais admitindo ceder à pressão dos filhos, a psicóloga
concluir que a tarefa de formar consumidores mais conscientes não é nada
simples. Os pais não têm educação financeira, compram por impulso e sequer
percebem que os filhos seguem o mesmo caminho”, indaga.
De
maneira geral, os especialistas do Meu Bolso Feliz recomendam que os pais
conversem direta e abertamente com as crianças sobre a atual situação
financeira da família, seja ela positiva ou não. “O pai que esconde a realidade
financeira e satisfaz todas as vontades dos filhos, cria filhos sem limites e
que vão ter profundas decepções ao longo da vida para lidar com perdas e
frustrações. Já aqueles que falam abertamente e dão bons exemplos, conseguem
criar adultos que, além de preparados financeiramente, conseguem superar e até
driblar as dificuldades impostas pela vida”, concluir Maria Teresa.
Preparado para o consumo consciente
Aprenda
com nossos especialistas como ensinar os pais a driblarem a chantagem
emocional, educar o filho e tentar prepará-lo para o consumo na vida adulta:
1) Aprenda a dizer não, mas contextualize e
explique o motivo da decisão, de modo que a criança se envolva com as finanças
de casa e se convença da impossibilidade de realização daquele pedido.
2)
Ao saber da importância educacional de dizer “não” e da forma como se está
preparando o filho para as frustrações futuras, os pais automaticamente
declaram a disposição de mudar uma conduta evitar cair na armadilha da culpa ou
da pena, sentimentos comuns nas relações. Resista à tentação de presentear os
filhos por culpa.
3)
Toda conversa deve ser conduzida com respeito e carinho, mas não subestime a
capacidade da criança. Com uma boa linguagem, elas são capazes de entender os
mais diferentes tipos de problemas. Lembre-se que nesse processo você estará
ensinando a lidar com uma coisa natural da vida: frustrações.
4)
As crianças são dotadas desejos assim como os adultos, mas é importante que
tenham claramente na cabeça a diferença entre querer e precisar.
5)
Entenda o porquê de tanto desejo sobre determinado presente/objeto e converse
com a criança. Muitas vezes o problema que a criança está enfrentando não tem
nada a ver com o mundo material e sim emocional. Dessa forma, os pais podem se
surpreender e identificar um problema de autoestima e de insegurança do filho.
6)
Converse com as crianças sobre as datas significativas para presentes especiais
como Natal e aniversário. Evite os presentes fora de hora. É importante que os
pais ensinem os filhos a suportar esperas.
7)
Ao ir às compras, faça uma lista e mostre para criança como que os gastos da
família são planejados. Se possível, também inclua a criança nessa lista,
mostrando que ela tem espaço, mas que tudo deve ser feito com controle e
planejamento.
8)
Não use a mesada como um mecanismo de moeda de troca, como chantagem ou como um
instrumento para acirrar ainda mais o controle dos pais pelos filhos. A mesada
é um instrumento que serve para ajudar o filho a planejar e controlar os
próprios gastos e não uma moeda de troca para se obter boas notas ou bom
comportamento.
Beijos
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Fonte: Portal Meu Bolso Feliz
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