A vida inteira a gente ouviu que devia
buscar uma alimentação mais saudável, que era preciso estimular os bons hábitos
alimentares nas crianças desde cedo, com um cardápio rico em frutas e verduras.
E isso é bom, não tenham dúvidas. Ruim mesmo são as notícias que temos lido e
ouvido nos últimos dias sobre a qualidade das frutas e verduras que têm chegado
à nossa mesa. Isso, sim, é preocupante.
Os resultados do Programa de Análise de
Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), realizado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), divulgados semana passada, mostraram que 36% das
amostras de alimentos pesquisados em 2011 e 29% das analisadas em 2012
apresentaram resultados insatisfatórios. Ou seja, tinham agrotóxico acima do
limite máximo permitido ou a amostra tinha resíduo de veneno não autorizado
para aquele tipo de alimento pesquisado. As informações são extremamente
preocupantes, porque esse levantamento visa avaliar continuamente os níveis de
resíduos de agrotóxicos nos alimentos que chegam à mesa do consumidor
brasileiro.
Isso significa dizer que, ao invés de
saúde, estamos levando, muitas vezes, perigo, risco para a saúde e a vida de
nossa família. Nessa pesquisa foram analisadas amostras de 13 alimentos, entre
eles arroz, feijão, morango pimentão, tomate, entre outros, alimentos que
comumente fazem parte do cardápio diário da maioria dos brasileiros. O
pimentão, novamente, foi o campeão de inconformidade.
Leite
materno contaminado
Mas confesso que fiquei ainda mais
preocupada. Um dos mais importantes estudos sobre os impactos dos agrotóxicos
na saúde já realizados no Brasil (senão o mais importante), o “Dossiê Abrasco -
um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, entre os seus vários
pontos mostrou um que me deixou estarrecida. É sobre a contaminação do leite
materno por agrotóxicos. Isso mesmo. Segundo o estudo, parte dos agrotóxicos
utilizados tem a capacidade de se dispersar no ambiente, e outra parte pode se acumular
no organismo humano, inclusive no leite materno.
“O leite contaminado ao ser consumido
pelos recém-nascidos pode provocar agravos a saúde, pois os mesmos são mais
vulneráveis à exposição a agentes químicos presentes os enoambiente, por suas
características fisiológicas e por se alimentar, quase exclusivamente com o
leite materno até os seis meses de idade”, diz o dossiê. Essa pesquisa foi
realizada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) com o objetivo de
determinar resíduos de agrotóxicos em leite de mães residentes em Lucas do
Rio Verde (MT).
Para tanto, foram coletadas amostras de
leite em 62 mamães que se encontravam amamentando da segunda a oitava semana
após o parto, residentes em Lucas do Rio Verde. A maioria das doadoras (95 %)
tinha, em média, 26 anos de idade e 30% eram mães de primeira viagem e residiam
na zona urbana do município. Para surpresa, todas as amostras analisadas
apresentaram pelo menos um tipo de agrotóxico analisado.
Imaginem, nem o leite materno, o
alimento mais saudável, mais indicado para os bebês, está livre dessa
contaminação, pois nós, mães, não estamos imunes a ela também. Fiquei
boquiaberta quando ouvi essa informação, durante a participação do professor
Fernando Ferreira, pesquisador responsável pelo Dossiê Abrasco e chefe do
Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB).
Efeitos
para a saúde infantil
Preocupada diante disso tudo, resolvi dá
uma pesquisada para saber quais os efeitos dessa exposição e consumo das
crianças de alimentos contaminados com agrotóxicos. Preocupada diante disso
tudo, resolvi dá uma pesquisada para saber quais os efeitos dessa exposição e
consumo das crianças de alimentos contaminados com agrotóxicos. Não se
assustem, mas pesquisadores dizem que os efeitos dos agrotóxicos nas crianças
podem ser até 10 vezes mais intensos que nos adultos. Matéria publicada na
revista Corpore trouxe dados da pesquisadora científica da Universidade Federal
do Paraná, Sônia C. Stertz, doutora em Tecnologia de Alimentos, presidente da Sociedade
Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos – Regional Paraná, que também
mostram que as crianças apresentam níveis duas vezes mais elevados de
pesticidas no sangue que os adultos.
Isso porque até os dois anos elas
produzem pouco de uma enzima chamada Paraoxonase-1, que ajuda na eliminação de
pesticidas organofosforados, sendo que algumas crianças só atingem níveis
normais dessas enzimas aos sete anos. À revista, a pesquisadora disse que
“dados oficiais do governo americano revelam que pesticidas organofosforados
(PO) são encontrados no sangue de 95% das pessoas testadas. Essa exposição aos
PO está relacionada à hiperatividade, distúrbios de comportamento, distúrbios
do aprendizado, atrasos do desenvolvimento e disfunção motora”, esclareceu.
Fora isso, o agrotóxico no alimento, ao
ser ingerido pela população, tem um efeito cumulativo, vai se acumulando no
organismo e pode levar a algum tipo de doença crônica não transmissível,
principalmente as neurológicas, endócrinas, imunológicas e hoje a questão do
aparelho reprodutor, como infertilidade, diminuição do número de
espermatozóides e a questão do câncer.
A publicação trouxe ainda o depoimento
da pesquisadora da Unicamp, a médica
Silvia Brandalise, que estuda as causas
de câncer, principalmente entre crianças. Segundo ela, pesquisas já comprovaram
que a exposição aos venenos usados nas plantações está relacionada à leucemia e
aos tumores no cérebro. A comida com excesso de agrotóxicos e produtos químicos
também faz parte dos fatores de risco.
Reflexão
Esses dados, mais que servirem de
alerta, suscitam uma reflexão, especialmente em nós, mamães e papais. O que
fazer então? As frutas e verduras são essenciais para a alimentação de qualquer
pessoa, principalmente das crianças que estão em fase de crescimento e de
formação de bons hábitos alimentares. Infelizmente, não são todas as pessoas
que têm acesso a alimentos produzido de forma agroecológica. Então as dúvidas
são ainda maiores.
O ideal seria que a gente tivesse
condições de plantar numa hortinha aquilo que a gente fosse produzir. Mas,
lógico, hoje em dia isso é praticamente impossível para a maioria de nós,
simples mortais (infelizmente! Pelo menos pra mim). A dica então é procurar,
dar preferência, pesquisar perto de você algum local onde possa comprar, o
máximo possível, alimentos produzidos de maneira agroecológica, sem a
utilização de agrotóxicos, pesticidas, venenos ou como queiram chamar.
Excluir os alimentos contaminados pode
não ser 100% possível, mas buscar reduzi-los o máximo possível já ajuda, né?
Outra maneira é procurar lavar, com cuidado, adequadamente esses alimentos
antes de serem consumidos. Embora os estudiosos digam que existem certos tipos
de agrotóxicos que não têm como ser retirado seus resíduos, porque eles
penetram no alimento. E torcer que um dia os produtores tenham conhecimento e
consciência dos riscos que estão causando a si próprios, família, comunidade e
consumidores pelo uso inadequado dos agrotóxicos na lavoura.
Beijos
@conversinhadmae
Com informações da Anvisa e Revista
Corpore